Páginas

30 janeiro, 2013

Antes de partir

vivemos tentando
ser alguém e ser lembrado
por todos que amamos,
para todos aqueles que
dedicamos nossos sonhos

não adianta dizer que não se importa
antes de implorar pra ter de volta.

e quem irá chorar
quando a canção não mais tocar
quando a voz não se ouvir
e o rosto tiver que se lembrar

os momentos que marcaram
viverão em cicatrizes
gravadas na memória
então veremos que não é
possível expressar o sentimento
quando o corpo já tiver ido.

é triste e finjo que não ligo
mas de ti,
espero mais que isso
antes de eu partir.

Porque a morte tem um modo estranho
de ensinar.

27 janeiro, 2013

Entre a fina dor e o descaso

Já há tanto sofrimento acolhido para superar
tantas palavras pra esquecer
e lugares para se esvaziar.
O mundo não precisa dos meus pêsames,
quantos sofredores mais são necessários
para que possamos dizer, que somos humanos.

entre o sensacionalismo descarado
e dores vulgares. 
Não é questão de quão frio podemos ser
mas procuramos hemorragias
nestes cortes superficiais.

E alguns me entenderiam
quando se é preciso re-amar.
encontrar o lar,
deixar alguém remar.
por mim.

[ . . . ]

Quando já estou cansado de mais
para seguir, neste jogo perdido.
E se permaneço nas encostas
com as costas nas rochas
é porque estou longe
de estar em casa.

"podemos ser amigos" - disse.

"amigos não te magoam?"

"frequentemente" - respondeu.

[ . . . ]

25 janeiro, 2013

Jamais navegar sozinho

O marinheiro com medo da tempestade
nunca conheceu os mares.
O marinheiro com medo da tempestade
jamais viu o outro lado.
O marinheiro com medo da tempestade
não conhece ninguém,
apenas os que se perdem em seu porto
e partem.
O marinheiro com medo da tempestade
se escondeu da chuva.
O marinheiro com medo da tempestade
desconfiou de quem atracava.
O marinheiro com medo da tempestade
não descobriu como navegar.
O marinheiro com medo da tempestade
nunca teve um par.
O marinheiro com medo da tempestade
tem medo do lado de lá.
O marinheiro com medo da tempestade
não sabe onde é seu lar.
O marinheiro com medo da tempestade
gritou aos quatro cantos.
O marinheiro com medo da tempestade
se afogou em seus prantos.
O marinheiro com medo da tempestade
esperou a morte.
O marinheiro com medo da tempestade
conta de mais com a sorte.
O marinheiro com medo da tempestade
tentou ser adivinho.
O marinheiro com medo da tempestade
acabou sozinho.

23 janeiro, 2013

Entre tantas possibilidades

Eu podia ter conhecido
a garota que sentou
ao meu lado no ônibus.
Eu podia ter me casado
com alguém que jamais conheci.
Eu podia ter me mudado
de país só para ver
você
correndo atrás de mim.
Eu podia ter nascido
em tantos outros anos,
em tantos outros...
Eu podia ter te beijado
e partido sem dizer meu nome.
Eu podia ter virado marginal
ou vender balas no sinal.
Eu podia ter
alzheimer e me esquecer
de ti em cada amanhecer.
Eu podia ter morrido
de desgosto,
gostar de outros gostos
ou de beijar garotos.

Eu podia ter sido
tantas outras coisas,
mas sou apenas, este,
o que sou.

22 janeiro, 2013

Sangue frio, coração aquecido

A dor alheia é mais bela
do que a felicidade alheia.
E se outra pessoa falar
tudo o que quero lhe dizer
você ouviria?

Se não tivesse lágrimas
em cada espaço
você me olharia?

O que seria da TV
sem as mortes.
O que seria dos acidentes
sem os postes.
e de uma poesia triste
sem amores falidos.

Tantos teoremas caídos,
corpos famintos,
famílias nos lixos
feridas com bichos.
É por isso que existem
mais hospitais que bibliotecas

[...]

a beleza do sofrimento,
eu já falei sobre isso antes.

20 janeiro, 2013

Abandonei o orgulho

Fui sempre este,
que sou agora.
Sempre um babaca
que diz o que acha
e ama o que fala.

Fui sempre este,
que se acha certo,
que detém a verdade
moralizante e
chato.

É um saco
se fazer forte
e ser fraco.
Hoje eu chorei
por quem já foi
e quem ainda irá,
também outros que não sei
se estão aqui ou lá.

É mais peso do que
eu posso suportar.
Incertezas demais
para que no outro dia
eu possa acordar, bem.
Eu, que tanto julguei,
hoje desmoronei com os fardos
que eu não consigo mais carregar.

19 janeiro, 2013

Por trás do escudo que te protege


Se tudo irá melhorar, diz-me então
porque ninguém é tão feliz como uma criança.
Já que não podemos ser cães
sejamos, ao menos, humanos
e admitamos nosso fardo sem ilusão.

e que a felicidade é passageira
que a bebida é uma forma de cegueira
e omitir é apenas uma maneira
de se esconder.

17 janeiro, 2013

Sinto que não haverá despedida


já que ela não veio para o café da manhã
ao menos deixou lembranças eternas
na minha mente sem muito brilho.

09 janeiro, 2013

Mais louco, do que sortudo

Andando sob a chuva, contando os pingos
se eu acertar a bolinha de papel no lixo
você fica comigo, assim eu sigo.
A tênue linha entre a sorte e a loucura.
Mais louco, do que sortudo.
jamais ganhei um ursinho no parque
só cicatrizes ao andar de bike.
Ela fica bêbada nas horas vagas
e eu dobro barquinho que não navega.
Eu tento não matá-la, juro que tento,
mas alguém sempre há de morrer.
apenas pisca, sob a luz hospitalar
carrega o coração na ponta dos dedos
pedindo a deus pra não infartar.

Que tacanho. 
Depois eu que sou estranho.
quem é que monta numa fera espectral,
sem manual de instrução
sem saber qual é a situação.

E sabes que não adianta voltar
eu já não estarei aqui,
outro corpo virá me buscar
e me levar até as profundezas
onde você jamais ousou entrar.

Onde há um pouco menos de tristeza.

08 janeiro, 2013

Não sou de lugar algum

Não sei de onde
sou.
Não sei pra onde
vou.
Você veio e me
levou.
como criança
com quem tem
esperança.
De um amor tranquilo
entre tantos outros
vacilos.
outros tantos caminhos
tantos carinhos.
Você me pegou
pela mão, me levou
e virou
se despediu
dizendo que era
pouco de mais,
louca de mais.
Para tentar
uma vez mais.
Há meses me esqueci
como era bom
não ser assim.
Como era bom
não ser criança,
era bom não
ter lembrança
de lugares vazios
de arco-íris
e dos rios.
É tudo vaidade
pra não ter que
amar outra vez.
Morrer outra vez.
E quanto mais
teremos que viver
para aprender que
seguiremos sempre
nesse impasse.
E se encontrar alguém,
não deixa que passe.
como você passou,
não parou, não ficou.
Sou criança
de novo.
Sou todo tolo,
bobo e infantil.
e choro sempre
pela mesma coisa
que me matou
todas as vezes
em que morri.
Em outros braços
que, hoje são seus.
E sinto até
nostalgia.
de sofrer agora
e parecer outros dias.
Só não entendo
porque nunca aprendo.
Se o amor
é pior que o azar.
São dados viciados,
cartas marcadas.
E ingênuo que sou
sempre caio outra vez.
Apenas para não esquecer
o que é sofrer.
E pode parecer pouco,
mesquinharia, drama.
Mas é assim que sou,
ansioso pelo dia
em que serei outra
pessoa.
Não o outro,
como de costume.
Tenho minhas impressões,
me desculpe.
Não é que eu não
acredite em tuas palavras.
É que acredito demais
nas tuas ações;
e quais são as opções
para se escolher
quando não se é
a escolha que gostaria
de ser. Não sei!
Talvez, seja eu
ingênuo
de mais, nesses
dois anos a menos.

07 janeiro, 2013

Exílio


Vou me mudar para onde
o choro dos pássaros não se escute.
Para onde o brilho dos olhos
não penetre pelos poros.

assoviarei apenas para ter
alguém para conversar.
e não haverá ninguém para perguntar
o que estou cansado de responder.

Eu serei o mesmo.

Serei tudo, e por todos.

E me afogarei em prantos mudos
onde todas as folhas secas
de cada árvore morta
hão de me consolar,
como pessoa alguma consegue.


É a vida que nos mata.

05 janeiro, 2013

O negociante empírico

Quebrou o escudo que me protegia
invadiu as muralhas
e pelas costas matou o vigia.
Que covardia!

Pensa que me engana
com seus truques falhos
e uma mente insana
Jura, que é verdade
de pés juntos disse
não ser covarde.

Mas pelas costas
ela invade.

Aprisionou a mente
e sequestrou o coração
maldita seja.

E hoje já não sei mais negociar,
se é que me entende.
Jamais toquei objetos desconhecidos

e assim será.

04 janeiro, 2013

Debaixo do arco-íris

Me tapeou
se aprisionou
e furou o pneu
de meu barco.

Não se confia mais
em lobo em pele 
humana e cabelo tingido.
Esqueceu que desprezou
e desprezou sempre 
o que sempre amou.

Maldita novela de amor.

das dores, sei eu
e de ti, só o que me contam
quando os gumes não cortam
e a atitude já não suportam,
como me comporto
em compasso torto
de bailarinas desiludidas.


 
 
Copyright © Navios Naufragados
Blogger Theme by BloggerThemes Design by Diovo.com