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15 dezembro, 2016

Sou causa espontânea,
e o efeito é uma
coleção de tristezas.

em meu egoísmo
sofro sozinho.
e no fim
ergo o troféu
de minhas misérias.

Coleciono as decepções
dos que me falam,
e o ódio dos que
por amor
me abandonam.

(verão, 2016)

06 dezembro, 2015

Antítese sintética

toda mira uma presa solta.
perdão se um pedaço for
mas o que fica não volta.
vontade sobre vontade
e o acaso deixou de ser fato.

antropofagia rítmica 
das rimas estendidas
destruo gota por gota
selvageria entendida.

domino as coisas
que me dominam.
evito o apreço
por não saber o valor.

das cores que toco
só a vida me ensina o verde.
na química me perco de perto
e na filosofia à marretada
construo morada infinita.

império do rei só que sou
degrado tudo que toco
louco, 
como o que me resta.
da boca do lixo retiro minhas virtudes
o leão e o covarde.

19 setembro, 2015

leve-me a algum lugar bom

perguntei ao meu coração,
qualquer pergunta,
eu só queria uma resposta.
Nada disse.

por quais vias 
deve-se manter
aquele que desvia.

perguntei à filosofia,
onde existe sentido?
Disse: nada.

Nada já tenho,
e sentido não encontro.
Na vontade sem direção
perdi-me nas curvas da verdade.

agora reponho os cacos do abate,
relembro a tragédia tarde.
sigo meio vivo e moribundo
com o peso de dois mundos.

14 setembro, 2015

Notas de subsolo

que motivos tem os astros e as flores de serem belas?
se não pela verdade de beleza.
Vontade é, ainda, busca pelo supremo.
Supremo abismo erguido da aniquilação.
Quem conduz o fio deste abismo?
Se há causa pra esta casualidade, quem é a detetminação, o demiurgo deste tempo?

09 setembro, 2015

Nau-frágil

abismo. maldito.
minha própria vida 
de oca, agora ocupa
outra, a culpa.

habito, o hábito.
desabitado. maldito!
é se habituar à desculpa.
amarga cura. loucura.

ai ser eu, assim.
despreocupado, sem fim.
como sair de mim?

o deserto, atesta.
ateu, vida não é festa.

18 dezembro, 2014

Achados & perdidos

bala perdida, perdeu-se
de quem?
se acomodou no peito,
encontrou alguém.

quem puxa o gatilho
sabe o que acontece.
perdido é quem acha
que a morte favorece.

bala perdida, perdeu-se
de quem?
corpo encontrado.

pra mídia não é assassinato
mais um polícia condecorado.

10 novembro, 2014

Mal-thus

há em cada dia um sonho fio
em cada prédio que não impede
o pôr do sol penetrar no cinza,
na infelicidade da cidade indivíduo.

quantas belas palavras se salva
em uma olhada, atenta, sentida.
a bruta sentimentalidade de cada
rua, que insiste ser passagem.
nem praça, nem banco,
sem parada para os passa-geiros.

em cada casa pra carro
muita gente sem teto,
muito carro pra cada
e pra cada, mais estrada.

04 novembro, 2014

Independência

passo em falso
no abismo de tudo.
tantos dados, nenhum número
é isso que se aposta
na expectativa dos tolos.
ponta de faca no coração
passo pra trás
e outro aperto de mão.

passa o tempo...
não se conhecemos
e já não há cumprimento.
tão alheio e distante,
quando foi aquele instante?
somos tão independentes

e cansa ser o meio
pra significado nenhum.


28 outubro, 2014

Suor

teu suor, marinheiro
quem é que lucra?
quem é que paga?
A tempestade forte
e o teu sangue, marinheiro
quem se importa?
quem é que exporta?
a comida que te falta,
pobre marinheiro.

Quem te nega
a morada, o teto
a água encanada?
quem é que diz
'teu trabalho não vale nada'?

o fruto das árvores
a água dos lagos,
porque se paga?

Ó marinheiro, rema...
e onda acaba?

O horizonte é sempre o mesmo
passageiro da onda que passa...

18 outubro, 2014


cuido como se fosse eu
e sou como se fosse outro.
porque a relação se faz no fluxo
e a dialética me ensinou a ser o todo.
 
 
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