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31 julho, 2012

Por favor

Não venha com mais
do mesmo.

Não venha com beijo
envenenado.

Não venha com mentiras
a esmo.

Não venha com coração
escancarado.

Não venha com memórias
de outrora.

Não venha com fumaça
nos pulmões.

Não venha com vícios
insanos.

Não venha com flechas
nas pálpebras.

Não venha com promessas
nos bolsos.

Não venha com café
gelado,
e nem com chá
quente.

Mas se vier,
por favor...
fique.

29 julho, 2012

(ou coisa que o valha)

e se faltar chuva
a gente liga o rádio
na estação onde
toca apenas uma canção.
enquanto me perco em teus braços
e afago teus cabelos
desfazendo os nós e embaraços.

Desenho cavernas.

- Ela me pergunta o porquê -
_ O mundo é grande demais
e é aqui que nos escondemos,
eu e você...

só me desculpe por entrar sem bater
pensei que meus suspiros seriam suficientes
para me ver chegar,
entrar,
e mudar...

...sua vida

sei que não tenho o direito,
mas se quiseres
fique à vontade para mudar...

...de cidade.

Pois estou tendo de imaginar
seu perfume no meu travesseiro,
corto mapas, só pra te ter mais perto.

Me ligue, quando não pensar em mim
me visite, em todos os outros casos

e só deixe de me amar
quando freiras saírem bêbadas 
pela porta de um bar.

Reflexos no campo de centeio

Já poderia eu,
mais que nunca falar de outrem
que igual a mim
é isso que me convém.
Sem ceifa
e sem serifa.
Já sem campo
esta é minha escrita.

Atores, e suas dores
já não me iludem essas flores.
Dos sentimentos guardados
de quando posto a prova, transbordados.
Holden, restou no mundo
um demasiado de hipocrisia.
Hoje em dia, palavras de conforto
quem diria?
Sociável, quem seria?
Amigável, sem ironia.

Eu digo que sou assim,
faço o que nunca pensou.
Assim sou por completo,
nem lembro mais quem sou.
É o que diriam meia humanidade
se ainda digo em boa vontade
já não sobrou bondade,
essa é a verdade.

E se acima de tudo, eu pudesse
a você eu ligaria.
Salinger, diga-me agora
onde você estaria.



28 julho, 2012

Carmen Sandiego

Outro conglomerado de átomos
apresenta-se à minha existência.
Diz em palavras doces o que desejo ouvir
mas ambos sabemos que é decadência.

Se amor eu sinto, não sei
mas meu coração 
deleita-se
e palpita como se fosse novidade
a paixão.

Sou tão criança quanto
quem come trakinas na hora do recreio.
E nesses jogos de azar aposto as fichas
e dificilmente me ponho freio.

Se imaginas o que já vi
através do que escrevi.
Perceberás que eu nunca aprendi.

E hoje não é nem preciso fingir
que vermelho é minha cor favorita.
Então deixemos de fazer cena
e charmes livrescos.

E se ainda for cedo?
Sempre é, e se não for
já é tarde.




27 julho, 2012

Desafogo

Babaquice é a virtude moderna da humanidade
Wilde tinha razão.
E o homem superior retrocede
o que temos em comum é a sede.

As pessoas escolhem abismos
e se jogam a margens da sorte.
Entre perda de bens
há quem prefira a morte.
(e isso não seria ruim)

Abutres a procura de carniça
comendo estrume em ceia de natal.
Observando imagens,
escrotizando personagens
enquanto a escória diz: "Nossa, que legal"


- antes defunto do que babaca em potencial -



26 julho, 2012

É assim que começa

todo novo amor.
E nunca é novo
por ser sempre assim.

19 julho, 2012

É compreensível que você não entenda

- disse ela -
Mal sabe, que nada entendo
sobre tudo.
E sobre tudo, 
é que finjo entender.

E quem nunca deixou-se levar
pela sabedoria aparente
aparência inerente. 
Para que possamos então
sorrir sem porquê
onde talvez eu possa
seguir sem você.

Pois sou nau a partir
Estou onde deveria estar
e parti, pois não sei onde ficar.
Não atraco mais em portos destelhados.

Não,
não sou herói.
Nem marginal.

Sou apenas criança
que dança na chuva,
que gosta da luz acesa
e apago as estrelas...

Sou contradição,
pois nem mesmo sei
se sou ou não.



17 julho, 2012

Há sempre um corpo meio cheio, num quarto meio vazio

Sigo beirando
o que tempos de outrora
desprezei como ato.
Repudiei feito rato.

Em busca de queijo podre
ascendendo sobre prazeres
mesquinharias...
ninharias...
misérias dos que rastejam.

Enchendo corpos vazios,
de vida predestinadas a perecer.
Sou sujo, imundo.
e não mudo.

O que há de digno neste mundo?

Me vejo sem escudo
e sinto minha alma
ser a enfermidade,
a consciência, o câncer.
Pois nem temo mais, morrer.
Quão confortante seria.

E sei que os senhores hão de concordar!

Aguentamos as mazelas
de um coração pulsando,
pois sabemos que a morte
é a recompensa dos oprimidos.


13 julho, 2012

Notas de rodoviária

Escrevo em guardanapos
velhos de lanchonete de rodoviária
Pois nem me preocupo
se vou ter carro ou não.
...
Sobre o que escreverei se tiver um?
"Se dirigir
não escreva poemas"
- dirá uma nova lei -
Então procuro outro ofício.
[...]
 As pessoas só passam maionese
depois da primeira mordida.

E tu nunca terás uma conversa no ônibus
a não ser que sejas uma mulher bonita,
mas daquelas com cara de vadia.
Ou um velho cheio de histórias,
mas que só fala sobre o clima.

Ando tentando fugir do mundo
mas não sei porque diabos
sempre volto a pisar nele!
...então aceito este fado.
Pois aquele que não anda,
põem-se a rastejar.



08 julho, 2012

Outro, de novo

As cicatrizes ficarão
não importa se tenho outro lar
se tenho outro corpo para abraçar.

Não é escolha minha
ter as memórias que tenho.
Se possível...
peço que não pisoteie
o que sobrou do que construímos.

Voamos rápido demais
sem saber o que havia por trás
das nuvens,
do vento,
do céu,
no relento.

Fazemos caretas para fingir
botamos sapatos para fugir.
Atingimos um ao outro
porque queremos
um ao outro.
Vivo ou morto.

Na estante de troféu,
botamos os corações que partimos.
"Não volte mais" - disse ela.
Nos olhos pode-se ver que desistimos.

07 julho, 2012

Passado amassado

Um beijo sob chuva de estrelas
sob tempestades morais
desmoronado...
não sei ao certo
das quais me livro.
Leio um livro,
sou livresco.

Tomo ar fresco
em um gole, acabou.
Me cansei, puis-me a viajar
por onde não sei.
Para longe de seus golpes
pois não uso orgulho
como escudo.

Relampejo no escuro,
relembro o passado
desenhado em papel amassado.

Atiro no lixo
o lixo que me sinto.
Deixo o subterrâneo
com dores intestinais
sou o anti-moral
baseado em desejos carnais.

Li outro livro.
Me sinto outro lixo.
Me atiro...

05 julho, 2012

Areia movediça

Eu não quis mentir,
já omiti.
Em ambas as partes,
só nos vemos em bares.

Você tem outro lar
e não posso entrar.
Com portas trancadas
não quis me contar.

Toda a indiferença que aprendi
aplico em todos os casos
onde possas mentir.
Seu vício em potencial
pedindo licença
para se tornar ato, letal.

Me apóio em braços
clandestinos.
Encontro conforto em
desconhecidos.

O fél não é mel
você não é réu.
Como suportas essa consciência,
assassina por essência.
[...]
Caminho entre vilas
migrando de mundo
andando sem velas
por onde posso ser surdo.

 
 
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