Não vais passar

o primeiro par de olhos

azuis que vistei

foi o último par de olhos

azuis que mergulhei

pois entre os oceanos

o fundo é sempre mais belo.

por medo; que deixei

e deixo

esse tempo que devora,

a alma, dilacera a carne fria.

O tempo que se fez presente

em cada movimento, mas

até quando

o tempo que consumo,

já não sei se não é

ele quem me consome.

mas daqui algum tempo

essa angústia some.

Latere litteralis

uma gota não transborda o oceano
por isso guardo minha lágrimas
numa latinha de ervilha.

Meio

já fugi de casa

por algumas horas

e fujo todo dia

pra quebrar vidraças

e colar cartazes

do pouco que tenho

às vezes é tudo

o que posso ter

já me fiz de cego

e tropecei sobre o meio fio

mas sempre me ergo

e em todo vidro

vejo um meio frio

que vento me sussurrou 

pra voltar pra casa

e queimar os livros

que eu tanto li

me deixando assim;

pra me aquecer

e muito esquecer,

não sei mais

por onde

ir.

pois percebi não estar aqui

o meio.

[...]

eu fugi.

Grão de areia

este frio já não trás gelo
nem o calor, o suor
me perdi nas ruas que
sempre conheci
li doze páginas,
é hora de uma revolução animal?
revolução minha,
revolução pessoal.
Me disseram os bichos
para largar meu lar
um dia largo
e durmo em frente ao mar
não sei mais
se é falta de saúde, ou saudade
de tempos de outrora
onde a luz não me alcançava;
não que ela me alcance hoje
mas eu não a procurava
de que vale ser visto
hoje as pessoas se vão
como se nunca tivessem vindo

Entre dois rios

de tantos caminhos

que sonhei trilhar

das escolhas que

sempre quis voltar

atrás, já não posso

mudar o trilho,

nem o curso deste

rio.

dizem que temos

domínio de nossas

vidas, e tudo depende

apenas de nós,

ah! estes, eu tenho

dúvida de que são

realmente humanos.

As areias deste tempo

encobriram as estrelas

e nos deixaram a esmo

em uma chuva de

meteoros sobre nossas

cabeças, como se

pudéssemos ser tão

sólido quanto uma

montanha, e nada

mais posso fazer 

por isso eu apenas

rio.