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31 outubro, 2011

Removendo a pele

Me desculpe.
Extirpei,
dilacerei.
E avistei suas entranhas.

Não vi o que queria ver,
vi apenas a melhor coisa
que eu deveria ver.
Vi seu coração.

Espiei teu passado,
como se não o pudesse te-lo.
És nova para mim,
mas não para dezenove anos de vida.

Eu queria a verdade,
mas procurei a mentira que inventei
e obter motivos,
motivos estes, que desconheço.

E afinal sempre foi assim,
procuramos dor no amor.
Verdades nas mentiras.
Queremos a certeza de estar certo
para preencher o vazio
deixado pelas emoções.

Queremos apenas um porto seguro,
com o farol para iluminar
enquanto nos aproximamos
e percebemos ser um bom lugar
para atracar nossos barcos.


26 outubro, 2011

Mendicância

Tempo,
em que as pessoas não querem ouvir.
Tempo onde ninguém mais consegue sentir.
Tempo em que a virtude cobiçada é mentir.
Ainda comentam sobre evoluir?

Eu estou com a porta aberta
para um mundo de mentes fechadas.

Sinto inveja de quem tem amor,
mas não este amor que está nas fachadas.

Por favor, me fale sobre seus sentimentos,
vou fingir que escuto sem sorrir.

Não sinto a dor dos seus ferimentos,
mas prometo que não vou mentir.


Remar, re-amar

Longe demais
pra entender,
Estamos longe demais
pra saber
o que é viver.
Então eu me sinto
tão ancorado aqui,
esperando o trem chegar
para poder partir.

Pra onde eu não sei,
pois já estou perdido,
despido,
esquecido,
e não posso acordar.
Se eu quiser gritar,
quem irá me escutar?
Naufragamos sem remos
e sem boias em alto mar.

- Outro dia será diferente -
penso isso,
e não estou contente.
Me perdi tanto dos dias,
e me vejo em outro continente.

não quero acordar...
não, eu não quero voltar a sofrer
- Eu te amo - e perdemos a direção.
Cavamos túmulos sem pá,
e cobrimos velhas lembranças sem caixão.
Vamos ficar por aqui
onde posso respirar,
e não solte minha mão.


20 outubro, 2011

Apertem os cintos (ou o início do fim)

"Tu me conheceu assim"
Ela insiste.
- E é por isso
que nunca vais evoluir? -
Penso eu.

Não me leve a mal,
me leve adiante.
Apenas isto.
E eu tentarei
arrancar-te um sorriso.
Não obrigo-te
a ser quem não és.
Pois eu posso...

... posso partir.

E não haverá mais valia
nestes atos.
São os nós que desato
e tu achas um fardo.

E o que te importa?
Pensei que o amor
abriria esta porta.
E abriu...
Para eu ir embora.
Se não vês motivos
que motivo há
para ficarmos aqui?

Siga com tuas prioridades,
eu sigo,
com minhas desilusões.

Então ela trancou a porta.


17 outubro, 2011

Parti, me procure em outro mundo

E se por ventura
quisesse eu, outro mundo?
E existir noutra forma...
Beber do que não existe
e saber o que não se imagina.

Me chamariam de louco,
mas...
quão louco és tu?
Aquele que espera o regresso
que segue o fluxo dos fracos
onde já não se tem progresso.

E eu lhe falo.
Este não é meu mundo.
Viver sem rumo,
é suicidar-se lentamente.
Deixar pedaços seus,
nas esquinas, nas calçadas
nos edifícios abandonados.
E achar que está tudo bem
guardando selos colecionados.

Fácil, é sempre começar,
o desafio é saber continuar.
E continuo a falar,
estou partindo.



13 outubro, 2011

Logo antes do abismo

Você diz:
_"Só mais uma hora,
mais um dia."
O tempo passou
e fechei a janela,
então o mundo parou.

Não te recordo mais
dos brilhos dos olhos
e o tempo que ficou,
já não leio mais jornais.
Nunca os li...

Mas você tem meus passos,
assiste minha vida,
não há mais espaço
nessa ilha...
E você trilha
mas não existe tesouro
nem pedras escondidas.
Não vê através do muro
o meu sussurro...
estou no escuro
"eu também"
- você diz -
sou refém.


11 outubro, 2011

Enquanto as pernas entortam

Fazer nada, de facto
é pior que fazer tudo.
Não há trabalho,
e nem mais estudo.

E é nessas horas
que não há mais mundo!
E é tudo mudo,
estão todos surdos.
Cercado por muros...
Que já não protegem
te afastam
te levaram pra longe.

E quando seu desejo
for andar
pelo parque
falar com alguém
que tenha sotaque.
Comer salgados
jogar aos patos.
Atravessar a ponte
gravar seu nome
na tábua velha
que teve tantas estórias,
e agora tem outra,
daquele qual chamam escória
...
e talvez, tenham razão
eu amo tudo
enquanto continuo sentado
e no fim,
já passou o mundo.
E me deixou
aqui...
surdo.

01 outubro, 2011

O outro lado da eternidade

Porque eu, ei de querer a eternidade?
Não estou tomado assim
de tanta loucura e devaneios.
Ainda preso o hoje e o amanhã talvez.

Não quero existir, querendo sumir,
não quero viver sem poder amar.

Andar no vale da sombra
ou na estrada de pedra,
onde deixamos nossos corações no lixo
e seguimos sem precisar voltar.
Sem precisar se importar.

Queimando como escarro
estas cinzas de quem teve de ficar.
Pela eternidade,
onde não se pode morrer.
E viver será a única ordem.

 
 
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