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31 janeiro, 2014

|  siamesas
|  se amem
|  na mesa
|  que seja
|  onde quer
|  que esteja
|  sem presa
|  nem certeza.

28 janeiro, 2014

O Garimpo

palavras são
faca de dois gumes,
tanto conforta
quanto corta.
por isso escrevo
assim, tímido
assim meio
em pedaços.
quem as lê que
junte os cacos
como bem entender
ou entenda
como bem quiser
a verdade é que
não me importa,
tem gente que
é assim mesmo,
cospe com a boca torta
há sempre alguém
pra desagradar,
à esses eu sugiro:
leia de cima pra baixo
até não importar
se o que digo
vai te agradar.

27 janeiro, 2014

Eu a muralha

Aguardo a última luz apagar-se, esperando o ato que me tire de mim. É quando vale a pena, é quando o convite me escapa o escopo que desmorono, como castelo de areia em dias de chuva - aqueles dias nublados que toca um fino vento que transpassa os poros. Um dia que não possui outra definição se não; tédio. Dia de suicídios em colchões, de rascunhos rabiscados nas paredes de qualquer lugar - nas vielas, nas esquinas ou nas árvores - esperando eternamente um leitor. Alguém que entenda que poesia não tem lugar, que filosofia não é só pensar, e que amor não é só amar.

Há quem erga castelos nos piores dias, onde o mais feio iglu torna-se a mansão de quem já é muito. Que me vale o céu se não tenho asas - disse a necessidade. E por um momento quis o que queria, pois sabia querer, como ser que é. Então, Fernando, o terreno tornou-se castelo, e o castelo sou eu...

25 janeiro, 2014

O não também afirma

Ouvi a negação que propõem a verdade invertida, sintetizando o absorvido absorto em demasia da minha compreensão. Como poderia eu ver com outros olhos? Aceito-lhe, ó contrário. Como irmã siamesa de tudo que digo. De tal protuberância e emaranhado que de tudo sinto. Sinto, como se não houvesse outra forma. Qual forma seria essa se não fosse o que é? Apenas por isso, sou-me o qual aqui estou. - Há, ou melhor, queiramos que haja, este abismo, esta cisão, a negação do já dito, e o contrário do não dizível. Divagamos sobre pernas que nos são.  Almejamos os sonhos que já não. Assim, sempre avante!
Somos navios sem remos, e é o vento que nos sopra a brisa nos cachos. Cintila o conforto aos ouvidos, e a visão da práxis sempre nossa, sempre minha, universalizado ao outro que jamais sou. Há sempre dois lados da faca, e por isso, um terceiro. A dialética do não, a permissão dos opostos, o diálogo sem dono, a construção do estado de coisas que não pode ser, se não, somente aquilo que lhe formou em toda a sua essência, material ou inteligível.
Hoje meu maior medo é ter certeza.

fujo
     enquanto dizes verdades sobre mim, então
finjo
     que continua tudo bem, como não?

24 janeiro, 2014

Ah! De que vale o auto-conhecimento
me tranco em mim, em muros de cimento
o ego desvanecido por tuas palavras
sendo eu, igual a tantos outros caras.
prosa proferida em lâmina fria
não corta pele, mas vicia...

19 janeiro, 2014

Consumir-se aos outros

te chamo como quem está a morrer
como quem deseja depois da partida.
e no fim é sempre assim, de fato
cada amor que perde o ser ao tato

perdoe-me por ser esse turvo
pelas borboletas que desviam da brisa.

perdoe-me por entender os esquizofrênicos
sou eu, também, um enfermo em alma

permeio-me em tudo que me forma
e formo tudo o que de mim se sabe até hoje

nada há neste mundo que não seja eu
e sou tão outro que não me enxergo,
mesmo assim me sinto tão alheio.
"É, cavalheiros..." - disse em prosa -
"... Os fins são sempre os meios"

16 janeiro, 2014

Suplicios

Escrevi-te tantos poemas
dediquei-te metade de meus pensamentos
apontei-te os melhores de meus sentimentos
divaguei por horas sobre horas que
desejaria estar por vir e não vieram.

Aportei tantos portos pelo mundo
para que me encontrasse perdido
em anseios e de coração mudo.

calou-se há tempos, os tempos
em que havia o que se amar
desejei estrelas e mares outrora
mas de todo modo nem sei remar

em meio a tempestade me perderia
e me perdi...

toda essa magia de liberdade pouco vale
se me sinto preso em mim.
quem teria a chave de minha prisão?
quem a não ser eu?

este não é só mais um poema
mas uma pedido de ajuda.

Não deixe-me ser depois de tudo
uma nota de roda pé.

15 janeiro, 2014

Sem título

Talvez tanto tivessem razão, mesmo parecendo apenas mesquinharia o modo como agiam e a vida que viviam – agora parece tudo normal, como se eu fosse descrito como escória que lia nos livros dos grandes poetas sujos das metrópoles. Entre o manto invisível e o olhar por desprezo.

Passo e ninguém repara, mas eu vejo seus rostos, as cicatrizes e até sinto suas mágoas, como um psicanalista ou coisa que o valha, mas tudo que posso trazer é a cura de minhas palavras – que de fato não curam enfermidade alguma, a não ser as da alma.

Escrevo aqui porque sinto demais. Mais do que qualquer ouvido despretensioso estaria disposto a ouvir. Toco-me em minhas próprias palavras, converso com cada contradição que carrego, mesmo já não sabendo se tudo o que escrevo sou, ou se são apenas lembranças de tudo que já experimentei. Oh, céus! Como é difícil percorrer o caminho que leva até si mesmo! E como poderia alguém me ajudar? Não é como perguntar onde fica a padaria e receber sempre a mesma resposta, o caminho é solitário, o mais solitário de todos os caminhos. O destino de rebanho certamente é onde crio meu desvio. Porque sou o único a me escutar, e que tragédia seria andar desnudo por aí, com os pensamentos transbordando-me os poros.

Não sente-se mais o aconchego do lar, nem o abraço quente maternal, tão pouco os sorrisos paterno. Somos navios em meio à imensidão das ondas, um ser solitário boiando nas infinitas linhas das divagações. A busca sem fim, o desejo incessante, como fogo que arde e cada dia cresce mais ao leve balanço do sopro que sentimos nos bons momentos.


Já me neguei tantas vezes que não sei mais o que me apraz. Tudo é outro, e o que sou eu em meio a isso tudo? Em que momento finalmente poderei descansar-me, achado na escuridão mais profunda de meu próprio ser. Não sei onde começo e onde termino. Não sei pra onde vou, ou o que amarei amanhã. Sou em cada instante uma nova era, e a negação de tudo que já fui. Só assim poderei ainda percorrer os campos que me separam de mim. Talvez encontre-me junto às estrelas já mortas, que não cessam seu brilhar. Pois só pode se achar o caminho de volta, depois de já ter ido.

14 janeiro, 2014

Tyna Tinsho

era esse o temor que me assolava, teu semblante que transpassava as eras, que não tocava areia alguma do tempo. Adentrava em meu peito tamanha desconfiança, de que pudera realmente aquele momento ter existido, por vezes eu duvidara de que éras exatamente como apresentavas-se à mim. Seus olhos perdidos além do tempo e espaço, que encontravam-se na infinitude de um céu sem estrelas. Um sorriso deveras sarcástico com um tom de superioridade intelectual que me causava náuseas - e mesmo assim - como fui súdito de teus lábios enquanto demonstrava sua sapiência através das palavras mais íntimas, que me tocavam o ser, tão fundo e tão certeiro como jamais haviam tocado palavra alguma. E hoje faz-me tanto sentido, fosses meu algoz e meu demônio, meu Kromer e Demian. Fosses os grilhões e minhas asas. - E como tu, ausente no tempo, extemporânea e andarilha das nuvens; continua a atuar sobre mim. A cada vez que fito, e finjo não ver, pois como sempre não imagino qual seja o próximo passo, e temo a próxima palavra a sair de minha boca. Já desviando-me disfarçadamente, ofegante, com tamanha nostalgia e expectativa. O velho sentimento sempre novo. O inefável.

13 janeiro, 2014

Correnteza

é sempre prazeroso pegar um desvio
na linha eterna que traçamos nosso ser
como uma chuva não calculada,
um mar revolto e absoluto que aos pés
o sinto de cima, dividido, sempre unido.

e não deixamos apagar a chama
mesmo que não mais os mesmos
continuemos verdadeiros em tudo,
pois só há verdade, se me permito ser
o que apenas posso ser agora.
e sendo, distancio-me desse querer
do movimento infinito, dos radiadores
falsos profetas e ínfimos amores.
Estar aqui é tudo o que preciso.

"Não há outro eu em outro lugar."

11 janeiro, 2014

O último dos semideuses

Sinto a areia do tempo
que o vento não carrega,
pés sujos alma limpa
A brisa não é tudo
mas ainda me diz muito

passos em linha reta
verdade Fernando.
Me perdi no horizonte
como um equilibrista na corda bamba
já não sei o que será de meu ontem.

Existem três tipos de nuvem
as que chovem e as que não
o resto é negação
é céu, é mar, é horizonte
dois amantes sempre unidos
eternamente distantes...

Dois lados da mesma viagem

se cheguei é porque
de algum lugar já parti
não tente me conter
nasci com asas pois não sou daqui.

nem de lugar algum.

não há lar que me aprisione
nem coração que me iluda
sou-me motivo suficiente
para não ser de ninguém.

Agradeço a estadia
mas quem é livre não fica.

03 janeiro, 2014

Juntei tudo o que há e fui-me, adeus

eles disseram
eu não quis escutar
eles pararam
mas eu ainda posso andar

continuo a seguir
não há no retrovisor
nada que me faça voltar

e não vai ficar assim
distante demais
que não possa mudar
destruir estes castelos de areia
será nosso destino
como onda em lua cheia
como lobos em matilha
como fogo que não cessa

quando o coração explodir
a liberdade transborda a boca
e aos goles brindaremos
dias que hão de ser nossos

 
 
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