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28 novembro, 2013

Estrelas de lata

disseram que palavras não libertam
aprendi a dançar nos livros
não valsa, nem tango
apenas eu e comigo
Hoje trago meus pés leves
para vagar pelos abismos

Pés surdos e apontados além,
aquele que sabe onde ir
que busque rumo na brisa leve
e que leve meu eu adiante
para além do humano

Sou preso aqui e livre pelo que posso ser
apenas sendo aquilo
que de outra forma não se pode
e torno-me sempre o meio
para jamais cessar meu remar

que jamais uma estrela me feriu
e hoje as contemplo
como se o céu não fosse
outra coisa que não
morte.

21 novembro, 2013

Entre as correntezas

O vento, areia
a poeira que sou
a esquina que resolvi não cruzar
a cruz que resolvi rejeitar
O gosto amargo
a gota de orvalho
estórias que não voltam
pessoas que já foram.

Há um rio incessável 
um tiro certeiro na alma
dor irremediável
consolo de quem ama
soluço de quem sente
que ser é tudo

O vento, areia
a poeira que sou
é o que restou

08 novembro, 2013

Auto-retrato

Guardo em mim ondas que se destroçam, pensamentos que me perdem a vista. Me desenho em palavras para que as imperfeições estéticas cintilem na alma. Pois se sou o que penso pouco importa se pareço. Hoje me visto de predicativos, eternamente diferente a cada segundo. É o cheiro cinza da cidade, a fumaça sólida que me entra pelos olhos, e uma fina esperança que se vai com o escarro pelo esgoto, para que toda forma de vida possa sentir, uma vez que seja, a importância de uma mão estendida. O conglomerado de momentos em que existi tornou-me o que sou, e agora estou - em mim - mais do que nunca, e menos que sempre.

03 novembro, 2013

Sou-me e me vendo a quem quiser

Eu fiz um pacto, ou quase. Lúcifer queria dinheiro, e eu, só tenho a mim. Ele pestanejou a oferta, claro. Disse-me que de nada valho - Foi então que sem rumo resolvi fazer arte. Não arte mesquinha, arte pros olhos, pros ouvidos. Mas arte grosseira, arte que tem medo de si mesma, medo de ser arte. Cada um se prostitui como pode, e aquele que não se vendeu à arte que se abrace à lúcifer. Já que só a mim tenho, sou-me tudo de que preciso, ou quase.
 
 
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