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13 março, 2014

Eu, meu devorador

Como pude ser o que sou como sempre, às vezes humano e sempre meio lobo. Meio sujo, vulgo e perdão por diferir de todas as máscaras que pintaram em minha face. Repito as frases, as rimas, os passos e as desculpas. Que será de mim sem minha metade de mim mesmo. Hoje amo a todos, e nunca mais amei como aos poucos em outrora. Do remorso da paixão, à fria sensação da podridão. Como esgoto que escorre junto as vielas deixadas pelo capital. A herança de um filho bastardo, de deuses do todo sempre. Do poder centralizante como forma ilusionada de harmonia. Os pecados do corpo pulsante, toda a culpa e vergonha fizeram de nós nossos próprios lobos. Caçávamos a nós mesmos, como cão que não reconhece a própria calda. Esquecemos nossa extensão, pois nos deslocaram do mundo. Fizemos de nosso intelecto motivo de louvor a si mesmo. Quem há de devolver à lama o que lhe pertence? O pedestal que erguemos sob o nome de "homem", o deus que cultuamos sob forma de "ego", o autoritarismo que defendemos como sinônimo de "estado" e toda forma de opressão vista como natural. Caçamos-nos a si e a cada igual. Assistimos pela tela, com a educação de um bom espectador. Assim agrilhoamos a nós mesmos, sob correntes invisíveis criadas pela imagem de escassez.

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